A editora independente depende do quê?

As dificuldades de uma pequena editora independente são tantas e várias que é difícil até enumerá-las. A começar pelo termo “independente” porque definitivamente somos dependentes de muitas pessoas e condições.

Somos dependentes da paciência e apoio familiar tanto do ponto de vista econômico (sempre restrito) quanto pela dedicação dispensada ao trabalho editorial. Afinal, além dele ser apaixonante, a maioria das pequenas editoras tem uma ou, com sorte, duas pessoas que atuam como proprietários, editores, marqueteiros, vendedores, produtores de evento, produtores gráficos. E também são responsáveis pelo cafezinho e água fresca, pelas contas a pagar, elaboração de estratégias de negócios, gerenciamento de trabalho (e normalmente a execução do dito trabalho) de fotógrafos, artistas gráficos, tradutores, preparadores e revisores de texto. Sem se esquecer que atuam como empacotadores de livros, são responsáveis pelo envio e também pela pós-venda e pelo contato com blogueiros, resenhistas, jornalistas. E por aí vai.

As dificuldades com as áreas fundamentais para a manutenção do negócio de livros também não nos dão trégua. As gráficas, por exemplo, nos convencem que o melhor é pagar à vista as impressões para termos acesso a qualquer desconto no preço final e sempre somos os últimos na prioridade de impressão, porque a quantidade que imprimimos é a menor possível. Grandes livrarias em endereços bem localizados nem respondem às simpáticas mensagens que enviamos com todo o amor e desespero para que aceitem os livros em consignação com acertos em 60/90 ou mais dias. Isso mesmo, consignação! Não há livraria no mercado brasileiro que tenha comprado os livros que estão em suas prateleiras (e se conhecerem, nos avisem, por favor!!!!!).

Não responder às mensagens que enviamos deve ser uma tática estudada em curso universitário. Os organizadores de Feiras de Livros são outros que aprenderam bem essa lição. E isso com o valor da inscrição em uma Feira de Livros estar na casa dos quatro dígitos. Bienal, ComicCom e outras? Ah, coloca cinco dígitos na despesa de aluguel do espaço e montagem básica de estande.

Enfim.

Não demora muito para que o editor independente conclua que não há saída solitária nessa área. De tanto reclamar e contar como situação engraçada os percalços do caminho para outros que estão na mesma lida, percebemos que os potenciais concorrentes se tornaram os parceiros mais próximos. A única saída que pudemos enxergar nesse primeiro ano da editora Bandeirola, é coletiva.

“Tamo junto.”

Ah, o alívio de contar com outros que são iguais e diferentes.

Por conta disso é tão animadora a perspectiva da estreia da Coesão Independente. Um novo gás para a produção editorial independente, que reunia 50 pequenas editoras no momento em que foi criada sua página no Facebook, número ultrapassado a cada dia na mesma proporção em que cresciam os likes na página. A proposta é o apoio mútuo por meio de parcerias, eventos compartilhados e trocas de experiências. Pouco? Mas como isso faz falta. A Coesão Independente pretende manter uma estrutura horizontal de decisão, colocando em prática a desafiadora (e chata) arte da democracia.  

A ideia partiu de Cid Vale Ferreira, da editora e sebo Clepsidra, com sede no centro de São Paulo. Ele aglutinou os primeiros editores em um grupo de whatsApp e a troca de informações, dificuldades e experiências foi imediata. Tão rapidamente quanto as conversas que ocorriam intensas pelo whats, o grupo aprofundou temas, identificou gargalos e afinou a organização.

Enfim, tamo junto. Que bom a via não ser mais tão solitária.

Vestigios

Facebook
Twitter
Pinterest
WhatsApp
Threads
Clubes de leitura streetart david pintor rua miguel bombarda porto
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários